Por Matheus Prá (@blockpartty)
PRINCETON HIGH SCHOOL
“Desde o começo, quero deixar uma coisa bem clara: meu sonho, desde que eu me lembre, sempre foi o de poder jogar na NBA. Isso não me torna único. Na verdade, praticamente todo garoto que joguei ao lado ou contra no circuito da AAU (União Atlética Amadora), nos últimos anos, têm exatamente o mesmo sonho.
A diferença é que a maioria deles está indo jogar o College no próximo ano. Eu não.
Na última semana anunciei que vou trilhar um caminho diferente ao entrar no Draft da G League neste outono.
Minha decisão surpreendeu algumas pessoas e até levantou um debate por eu ser o primeiro prospecto a tentar seguir este caminho. Então, eu quis dedicar um tempo para explicar por que eu decidi que esse caminho era o certo para mim, e por que eu acho que é algo a ser considerado no futuro por outros garotos que têm o mesmo sonho que eu.
Acho que, para entender a minha mentalidade em tomar essa decisão, você precisa saber um pouco mais sobre mim como pessoa. Cresci em uma família grande, com dois irmãos e quatro irmãs. Quando se tem tanta gente assim dentro de casa, você geralmente vai arrumar alguma desculpa para sair de lá. Para mim, essa desculpa foi o basquete.
Eu tinha por volta de sete anos quando dei a minha primeira enterrada. Claro, eu tive pular de um sofá que as crianças do meu bairro tinham arrastado para baixo da cesta, mas olha, eu saltei muito.
Muito antes de eu jogar em qualquer tipo de liga organizada, eu senti que poderia ter um talento natural para o jogo. Eu era alto e conseguia driblar um pouco. Meu arremessos era feio, mas funcionava. Mesmo estando a quilômetros de distância de onde eu deveria estar em termos de habilidade para jogar na NBA, me desafiar para chegar naquele nível se tornou meu grande objetivo. Eu sabia que aquilo era o que eu queria.
Eu não fiz testes para nenhum time organizado até alguns anos mais tarde. Eu estava na oitava série naquele ponto e só tinha jogado basquete por diversão. Lembro de ter ficado surpreso quando consegui uma vaga no time. O treinador, coach Mason, viu algo em mim que eu já tinha sentido naquele ponto, mas nunca tinha ouvido alguém com autoridade dizer o mesmo. Ele me disse que, se eu trabalhasse duro, eu poderia chegar longe no basquete. Honestamente, eu meio que acreditei e não acreditei nele ao mesmo tempo. Achava que ele estava apenas me motivando. Mas, olhando para trás, vejo que aquele momento foi o começo de tudo que viria nos próximos quatro anos.
A NBA não começa na faculdade ou mesmo na G League. É um caminho que para a maioria das pessoas começa muito antes. O primeiro passo é reconhecer que você tem talento. A partir daí, o que importa é fazer o máximo possível para ser visto. A sua próxima grande oportunidade vai geralmente depender de ter a pessoa certa te observando jogar na partida certa e na hora certa. Para mim, isso aconteceu quando estava na nona série. Minha escola estava jogando um torneio contra uma escola que vários olheiros foram observar. Eu não estava no radar de ninguém àquela altura, mas tive uma atuação excelente. Depois do jogo, John Stovall, que cobre a AAU, disse que gostou do meu jogo e que me recomendaria aos principais times da AAU, em Ohio. Foi aí que as coisas começaram a decolar.
Sempre vou me lembrar da minha primeira oferta porque meu treinador me contou sobre ela depois de uma partida em que joguei muito mal. Eu acho que perdemos por 20 pontos e eu estava decepcionado no vestiário quando ele veio em minha direção e disse: “levanta a cabeça”. Olhei para ele confuso e ele continuou: “Toledo acabou de oferecer a você uma bolsa de estudos integral”.
Aquilo foi irado!
Enquanto estava no circuito da AAU, meu objetivo era ganhar todas as bolsas que eu poderia ganhar, porque aquele era logicamente o próximo passo. Mas o que devo esclarecer, e acho que é realidade para muitos atletas recrutados, é que, enquanto eu acumulava ofertas de ótimos programas, olhei para todos da mesma maneira: como uma parada de um ano antes de entrar no draft da NBA. Pode soar brutalmente honesto, mas o sistema atual fez com que os principais jogadores do ensino médio pensassem desse jeito. Não que eu subestime o basquete universitário ou algo parecido. Eu simplesmente sabia que eu não iria para a faculdade com o objetivo de conseguir um diploma, pelo menos não neste ponto da minha vida. Na minha cabeça, o diploma da faculdade estaria lá no futuro. Mas, agora, o basquete é tudo.
Todo o processo de recrutamento foi uma jornada insana. Acabei me apaixonando por todas as universidades que visitei. Eu tinha toda a intenção de passar um ano na universidade, então passei muito tempo pensando onde eu seria mais feliz. No fim das contas, decidi que o melhor lugar para mim seria Syracuse.
Honestamente, eu via isso como uma honra apenas por ter sido recrutado. O técnico Jim Boeheim é uma lenda. As instalações são surreais. E tem muitos jogadores consagrados que elevaram suas habilidades depois de jogarem lá. Tudo isso para dizer que eu realmente acho que poderia ter tido sucesso lá, e é por isso que eu estava tão animado quando recebi a oferta.
Mas alguns meses depois, eu estava conversando com a minha mãe e com um dos meus treinadores, e eles levantaram essa opção de jogar profissionalmente por um ano antes de entrar no draft da NBA. A princípio, eliminei essa possibilidade completamente. Tive dificuldades em me imaginar fazendo isso. O tempo passou, tivemos uma conversa completamente diferente, e, pela primeira vez, foi levantada a possibilidade da G League.
Nenhum dos melhores recrutas jamais tinha tentado passar um ano jogando na Liga de Desenvolvimento antes de tentar chegar à NBA. Não é que fosse algo que não pudesse ser feito, simplesmente ninguém tinha tentado. Para fazer isso, eu teria que abrir mão de jogar na universidade dos meus sonhos. Mas de várias maneiras também parecia uma oportunidade legal de evoluir como jogador de maneiras que eu não conseguiria no basquete universitário. Em vez de ir para a aula e para festas, eu passaria todos os dias lutando por minutos em quadra contra jogadores profissionais. Tinha que escolher entre ser um calouro na universidade e passar um ano em uma organização em que todos compartilham o mesmo foco: achar um jeito de chegar à NBA.
Ninguém tinha conseguido isso antes…
Mas e se funcionasse?
Desde que a NBA implementou a regra do one-and-done (passar um ano obrigatoriamente no basquete universitário), a maioria dos prospectos seguiu o mesmo caminho: universidade por um ano e depois o draft. Se você olhar para o próximo draft, praticamente todos os jogadores que estão projetados para serem escolhidos na loteria fizeram isso.
E embora isso tenha funcionado bem para muitos jogadores ao longo dos anos, é importante lembrar que essa regra não funciona para todo mundo. Você provavelmente não se lembra de muitos desses nomes. Muita coisa pode acontecer em um ano – lesões, pouco tempo de quadra ou mudança de técnico.
Ir para a universidade não é o caminho errado, de jeito nenhum, mas também não é o caminho perfeito. Do jeito que eu vejo as coisas, meu GPS está direcionado para o mesmo destino que todos os outros recrutas da nação, apenas escolhi outra rota.
Quando tornei minha decisão pública, fiquei encorajado pelas respostas. As pessoas parecem respeitar que estou tentando algo diferente. Claro que sei que a decisão não caiu bem para Syracuse e seus torcedores. Entendo isso, mas também sei, de coração, que é a coisa certa para mim. Dito isso, sempre vou torcer por eles. Espero que minha vaga seja dada para alguém que possa ajudá-los a vencer o campeonato nacional.
Entendo do que estou abrindo mão indo direto para a G League. Eu sei que não vai ser glamouroso. Estou deixando para trás uma oportunidade de ser o cara no campus e jogar na frente de 33 mil fãs barulhentos no Carrier Dome. Isso não é fácil de se fazer.
Mas quando eu paro para analisar tudo, e pensar no que eu quero para meu futuro, percebi que, mesmo não tendo sido feito antes, passar um ano na G League vai me preparar para a NBA de um jeito que nenhum outro ambiente pode.
Parte disso vem de um número: 38%.
Essa é a percentagem de jogadores da NBA que têm alguma experiência jogando na G League. E esse número só tem aumentado com o passar do tempo.
Essa é uma das razões pelas quais ir para a G League me seduz mais do que jogar fora do país. Na G League, todos os dias estarei competindo ao lado e contra talentos do nível da NBA. Vou aprender os esquemas e táticas da NBA, adotar um esquema de treinos da NBA e estar em um ambiente onde o foco principal de todos ao meu redor é competir no nível da NBA. Sei que cresço mais quando sou desafiado. Foi assim que saí dos jogos por diversão na oitava série para ser considerado um dos melhores prospectos do país. Trabalhei muito para chegar ao ponto onde o mundo se preocupa em saber onde eu vou jogar depois do ensino médio.
De todas as críticas que recebi, acho que a mais engraçada é quando as pessoas dizem que eu vou ganhar apenas US$26 mil no próximo ano. E eu estou pensando tipo: “ei, eu vou receber US$26 mil no próximo ano!” Eu tenho 17 anos. Eu acho cinco dólares muito dinheiro. Se eu tivesse cinco dólares no bolso quando fosse para a universidade, seria o cara mais feliz do mundo. Se minha mãe me dá US$ 20 parece que ganhei na loteria. São muitas fichas que estou comprando, entende?
Mas ao mesmo tempo, é claro que eu não estou fazendo isso restritamente pelo dinheiro. Se esse fosse o caso, provavelmente iria jogar no exterior. Estou vendo o próximo ano como um investimento em mim mesmo. Não vou ter a chance de jogar partidas televisionadas para o país todo ou em uma grande rivalidade da NCAA, mas enquanto o foco estiver nos jogadores que vão estar lá, eu vou estar me esforçando. Vou estar na quadra comparando meu desempenho contra grandes jogadores e tentando superá-los. E enquanto eu estiver fazendo isso, mesmo que o país não esteja acompanhando meu progresso, tudo que eu preciso é a pessoa certa me vendo jogar na partida certa, na hora certa.
Entendo que há riscos em ser o primeiro a tentar algo assim. Mas, honestamente, eu me arrisco toda vez que piso em quadra. Esse jogo não te dá nenhuma garantia, e você é tão bom quanto a sua capacidade de ficar saudável. Só tenho uma chance, então me sinto muito bem por estar fazendo isso do meu jeito.
Se as coisas não funcionarem como estou planejando, talvez eu fique conhecido como o último jogador a tentar algo assim.
Mas eu tenho um bom pressentimento de que vou ser o primeiro de muitos”.
- Carta traduzida por Matheus Prá, do Block Party. Sigam o blog no Twitter (@blockpartty ).
- O link para a carta original no The Players Tribune está aqui.
O post Por que estou indo para a G League, por Darius Bazley apareceu primeiro em Jumper Brasil.