Uma das grandes apostas do basquete brasileiro está no draft para ficar! Como o Jumper Brasil adiantou em abril, o armador Georginho de Paula manteve seu nome na lista de prospectos internacionais elegíveis no recrutamento e vai tentar alcançar a maior liga do planeta. Com vários serviços especializados apontando-o como uma escolha de segunda rodada, a expectativa parece valer a pena.
Para analisar o armador que, com 21 anos recém-completos, já é titular de um dos finalistas do NBB (Paulistano), reunimos os dois integrantes do site especializados na cobertura do draft da NBA (Gustavo Lima e Ricardo Stabolito Junior) e três convidados especiais:
– Luís Araújo, autor do blog Triple-Double e que realizou um vídeo-análise do prospecto que você pode ver no início da página;
– Gabriel Andrade, olheiro e analista que mantém uma página no Medium e realizou uma longa análise de Georginho recentemente;
– Vinícius Guimarães, redator dos sites TimeOut Brasil e Área Restritiva que acompanhou a campanha do Paulistano neste ano.
Então, afinal, quem é o promissor Georginho de Paula? E ele tem reais chances de ser selecionado mesmo? Nossa equipe e convidados discutem a partir de agora:
- A princípio, o que mais te impressiona em Georginho como prospecto?
Gustavo Lima – A combinação privilegiada de altura (1.96m) e envergadura (2.13m) para um armador. Destaco ainda a capacidade de ser útil sem a bola nas mãos, utilização do tamanho para enxergar por cima das defesas e potencial defensivo.
Gabriel Andrade – As medidas físicas. É muito raro encontrar um prospecto com sua altura e, principalmente, envergadura considerando a posição em que atua.
Luís Araújo – Desde o LDB, sempre me chamou a atenção seu jogo no pick and roll, facilidade para bater em direção à cesta e combinação de altura e condição atlética. Recentemente, ele impressionou-me atuando sem a bola, buscando se posicionar no post up para explorar sua altura superior para a posição.
Vinícius Guimarães – Os atributos físicos. É alto para um armador, tem braços muito longos e mãos grandes. Essas características são valorizadas em um prospecto e podem ser catalisadores do desenvolvimento do brasileiro no basquete norte-americano.
Ricardo Stabolito Jr. – É difícil sair do lugar comum aqui: as ferramentas físicas. É o que deve impressionar todos, imagino. Possui a maior envergadura e mãos já medidas em um armador no Draft Combine. Como competir com isso?
- E qual aspecto mais o incomoda em seu jogo no momento?
Gustavo Lima – Sua mecânica de arremesso. Pouco fluida, lenta e baixa, que limita-o como chutador de média e longa distância. Aliás, seu arremesso de média distância praticamente não existe – acho que precisa ser trabalhado com urgência.
Gabriel Andrade – Sua falta de agressividade. Considerando sua passada larga e vantagem atlética no NBB, Georginho já poderia ter causado muito mais impacto atacando a cesta e quebrando defesas.
Luís Araújo – O arremesso de longa distância precisa ser trabalhado, mas ele já deu sinais de melhora, então fico com a necessidade de ser um defensor mais sólido. Essa é uma de suas grandes deficiência, o que pode ser inaceitável para alguém que tem os atributos físicos como grande trunfo para ficar na NBA.
Vinícius Guimarães – Por ter todas essas vantagem físicas, a pouca agressividade de Georginho no NBB 9 incomodou-me bastante. Conseguiria mais cestas fáceis se tivesse o ímpeto de atacar o aro constantemente. Isso também é resultado da falta de objetividade do jogador.
Ricardo Stabolito Jr. – Sua defesa é muito preocupante, até pela forma que os olheiros projetam-no na NBA. Ele comete erros na marcação e depende demais das ferramentas físico-atléticas para recuperar-se. Isso até pode funcionar no NBB, mas em um nível competitivo maior contra atletas do mesmo nível deverá ser exposto.
- Verdadeiro ou falso: Georginho é um jogador consideravelmente melhor hoje do que há dois anos, quando inscreveu-se no draft pela primeira vez.
Gustavo Lima – Falso. Consideravelmente melhor? Ah, não mesmo. Ele já tem 21 anos e peca por falta de agressividade e fundamentos nos dois lados da quadra. Além disso, sua evolução como arremessador foi bem tímida.
Gabriel Andrade – Verdadeiro. O crescimento pode não ter sido chamativo – ele continua um pouco cru –, mas inseriu-se no basquete profissional, melhorou o arremesso e tornou-se um passador bem melhor.
Luís Araújo – Verdadeiro. Não sei ao certo quanto, mas ele é melhor hoje. Disputa partidas contra profissionais, não está mais restrito a torneios de base. Promessas podem sofrer nessa transição e, ainda que sem o mesmo nível de protagonismo, já mostrou recursos e provou ter condições de jogar profissionalmente. Considero isso uma vitória.
Vinícius Guimarães – Verdadeiro. Ele melhorou não só no aspecto técnico, já que esteve inserido no nível profissional nos últimos dois anos, mas também no psicológico/emocional. Isso é muito importante para uma carreira sólida na NBA.
Ricardo Stabolito Jr. – Verdadeiro. Não foi nada muito chamativo, mas acho que Georginho controla e entende melhor o ritmo do jogo hoje em dia, está (um pouco) mais seguro com a bola nas mãos e desenvolveu a capacidade de atuar sem a bola nas mãos.
- Em que time da NBA você acredita que ele poderia ser um bom encaixe?
Gustavo Lima – Raptors. A franquia canadense gosta de selecionar estrangeiros e dar tempo para que se desenvolvam. É só observar os casos de outros brasileiros, como Lucas “Bebê” e Bruno Caboclo. Dois anos na D-League fariam muito bem a Georginho. Afinal, ele é um trabalho de médio e longo prazo ainda.
Gabriel Andrade – Bucks. A equipe tem identidade na envergadura, um recente sucesso com projetos internacionais longos e pouco desenvolvidos (como Giannis Antetokounmpo e Thon Maker) e relativo espaço na rotação para inserir-se aos poucos.
Luís Araújo – Difícil saber, até porque imagino que vá para a NBA precisando se desenvolver por lá e tornar-se alguém realmente aproveitável. Mas o básico é que seja um time disposto a apostar em projetos mais longos e inclinado a dar chance a jovens.
Vinícius Guimarães – Na verdade, minhas preferências de time para Georginho não se baseiam em encaixe, pois acredito que não é um jogador para impactar de imediato. Acho que o melhor seria uma franquia paciente e disposta a desenvolver jovens projetos.
Ricardo Stabolito Jr. – Bucks. É um time que gosta de atletas longos e versáteis defensivamente, além de mostrar inclinação a desenvolver jovens talentos. É lógico que Georginho não vai chegar jogando, mas seria um encaixe interessante no modo como Jason Kidd pensa o jogo.
- Como GM, você selecionaria Georginho e em que faixa do recrutamento? E, no fim das contas, acredita que ele será selecionado?
Gustavo Lima – Eu selecionaria Georginho no fim da segunda rodada e acho que será escolhido nessa faixa mesmo. Suas envergadura assustadora e potencial defensivos vão atrair a atenção de alguma equipe.
Gabriel Andrade – Escolheria e acredito que vai ser escolhido no fim da segunda rodada. Georginho é mais cru do que parte dos jogadores internacionais inscritos, mas, mesmo assim, deve ser selecionado pela raridade de um prospecto de armação com seu upside e versatilidade defensiva.
Luís Araújo – Também imagino que dependa muito do time. Em condições normais, imagino que seja escolhido na segunda rodada. Mas sempre há casos como Bruno Caboclo e Thon Maker, né? Basta um time querendo ousar visando longo prazo, com menos pressa por resultados na primeira rodada, para tudo mudar.
Vinícius Guimarães – Por mais que não tenha se provado tanto assim no nível profissional, eu acho que as características já citadas acima são intrigantes o bastante para um time da NBA na segunda rodada. Se fosse um dirigente, faria isso.
Ricardo Stabolito Jr. – Eu selecionaria Georginho na segunda metade da segunda rodada. E acho que vai ser selecionado talvez em uma posição até acima do que projeto, pois muitos prospectos internacionais deixaram o draft nos últimos dias.